terça-feira, 28 de abril de 2015

Apps para controle de gastos

"Com o que diabos eu gastei o meu dinheiro?" era uma pergunta muito recorrente em minha vida, até que resolvi colocar meu celular à serviço da busca pela independência financeira.

Em meio a enorme quantidade de lixo que permeia a seção de finanças da appstore, testei vários apps de controle de receitas/despesas, e hoje venho aqui perante Vossas Senhorias falar sobre dois deles.

Moni



Esse app me cativou pela sua simplicidade, e graças a isso tive uma história de amor com ele que durou mais de um ano.

O moni tem um conceito bastante simples: crie as categorias que bem entender e depois clique no + para registrar uma receita e no - para registrar uma despesa.

Segue uma foto da interface do app retirada do google imagens:

A foto está em inglês mas o app é compatível com PT-BR e R$

Com o moni baixado em meu celular, criei as categorias "Conta Corrente", "Poupança" e "Dinheiro em mãos" e assim fui tocando minha vida, anotando cada receita ou despesa feitas nessas categorias.

Porra, Madruga, anotar cada peidinho financeiro me parece desnecessário e trabalhoso. 

Caras, eu estou muito satisfeito em ter 100% de controle sobre os meus gastos e minhas receitas. Isso me permite ter um panorama completo sobre onde foi parar cada real gasto, e isso me deu mais senso crítico sobre como controlo o meu dinheiro. 

Por exemplo: você lembra exatamente de todas as despesas que teve em novembro do ano passado? Você provavelmente não lembra, e por isso você não tem como olhar pra trás e tirar lições pro futuro, pois não sabe se o dinheiro foi mal gasto ou bem gasto.

Confesso que no começo não foi fácil acostumar a registrar cada transação, mas depois que peguei no embalo não parei mais, até porque não demora nem 20 segundos pra tirar o celular do bolso e registrar uma receita ou despesa.

Se ainda assim você acha que registrar cada centavo é nazismo financeiro demais pro seu gosto, você pode, por exemplo, sacar R$ 100/mês de sua conta corrente, registrá-lo como "saque pra viver a vida" em seu moni e gastar esse dinheiro como bem entender. Dessa forma você tem R$ 100,00 (ou quanto quiser) livres de qualquer registro e o resto do dinheiro totalmente sob seu controle.

Chega de falar desse app, vamos partir para o próximo:


Meu porquinho



CALMA, eu sei o que você está pensando, mas não julgue um livro pela capa. Esse nome gay e logotipo infanto-juvenil escondem um dos apps mais fantásticos para controle de gastos que já vi na vida.

Como eu disse anteriormente, o que me motivou a usar o moni foi sua simplicidade. Ironicamente, a simplicidade foi também o motivo que me levou a parar de utilizá-lo: o moni nada mais é que um gigantesco extrato de receitas e despesas. Se você quiser analisar o seu mês de março de 2013, por exemplo, você tem que passar 15 minutos escrollando pra baixo até chegar nesse período.

Foi por essas e outras que meu relacionamento com o moni foi esfriando e passei a sair por aí nas madrugadas explorando outros apps de controle financeiro enquanto o moni chorava em casa por causa da minha infidelidade.

O olhar sedutor do porquinho rosa ali em cima roubou me seduziu, de modo que arrastei o moni para uma pasta inútil do meu iphone e o abandonei (só não deletei pois ele contém mais de um ano de registros e exportar dados nele exige conta premium).

O Meu Porquinho segue a mesma lógica do moni: você cria as categorias que quiser e vai registrando as receitas e despesas. Segue a interface dele:


O toque de mágica desse app é o seguinte: ele te entrega de bandeja um panorama geral dos seus gastos com base nas categorias que você mesmo criou.

Ao contrário do moni, não há a necessidade de você sentar numa mesa e analisar transação por transação para saber como o seu dinheiro vem sendo utilizado. 

Com apenas algumas dedadas na tela de seu celular, o Meu Porquinho cria gráficos (em forma de pizza ou de rosca) que já lhe permite de cara avaliar com o que diabos você anda gastando suas dilmas:

Nesse gráfico pode constar seus gastos com remédios, putas, drogas ou qualquer categoria que você quiser criar.

E o mais legal de tudo é que é possível criar gráficos também por períodos. Quer um gráfico retratando um ano de gastos? O meu porquinho te mostra. Quer um gráfico só do mês de março? O meu porquinho te mostra.

Enfim, eu citei o moni nesse post mais por respeito ao período em que ele me foi útil, mas o fato é que o Selo Madruga de Qualidade vai para o Meu Porquinho.

Esperto que lhe seja útil.

Abraço do Madruga!

PS: ambos os apps são gratuitos (ao menos eram na data deste post).
PS2: Eu não sei dizer se esses apps estão disponíveis para Android.
PS3: Fiquem à vontade para sugerir outros apps de finanças. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

5º mandamento do empresário prestador de serviços

5 - A empresa é lugar para fazer dinheiro, e não caridade
Sei que esse mandamento parece óbvio, mas nada é tão óbvio assim quando envolve sustento de outras pessoas e suas respectivas famílias.

Trabalhei por um tempo numa empresa de consultoria e o que mais me chamou a atenção nesse período foi uma funcionária chamada Rose (nome fictício).

A existência da Rose não me chamou a atenção positivamente, muito pelo contrário: ela custava aproximadamente R$3.5k mensais para a empresa - que nem tinha uma demanda contábil tão grande assim -, enquanto eu conhecia ao menos três excelentes empresas de contabilidade que fariam o mesmo serviço que ela por 1/3 desse valor!

Mas enfim, eu era apenas um humilde jovem em seu primeiro emprego, então não queria "chegar chegando" na empresa que tinha acabado de me contratar, muito menos apontar o dedo pros outros chamando de inútil e sugerindo a terceirização da contabilidade.

Optei por ficar na minha fazendo meu trabalho e lidando com o fato de que próximo a mim ficava aquele passivo de 3.5k/mês demorando três horas pra emitir uma nota fiscal eletrônica e perdendo tardes inteiras em fila de banco por não saber pagar um DARF pela internet.

Vamos para a parte em que a história toma contornos bizarros:

Numa não tão bela manhã, eis que Rose entra na nossa sala completamente pelada,  e vai andando em silêncio em direção à janela.

A reação do Madruga que virou pra dar bom dia e se deparou com a Rose peladona
É sério, meus caros, a moça só não se jogou janela abaixo pois foi segurada pelo auxiliar-administrativo que dividia a sala conosco, que tratou de acalmá-la enquanto ela chorava e agonizava feito um suíno sendo abatido.

Mais tarde, conversando com o dono da empresa, ele me explicou que a Rose toma remédio controlado e vez ou outra surta, geralmente porque deixou de tomar o remédio ou por ter bebido algo alcoólico que anulou o efeito da medicação. Fiquei sabendo que a tentativa de suicídio sensual que eu tinha testemunhado naquele dia poderia ser considerado um surto "light" se comparado ao que ela já aprontou quando saiu do controle antes.

Perguntei ao dono da empresa se não era melhor mandá-la embora ou encostá-la no auxílio-doença. Aproveitei para mencionar que terceirizar a contabilidade era muito mais fácil e econômico, coisa que ele já sabia. Bom, eis o que ele respondeu:

"Madruga, conheço a Rose desde a década de 80. Ela é uma pessoa muito boa, mas muito boa mesmo. Você viu que ela tem problema, e esse tipo de problema só piora se ela não tiver emprego e passar o dia todo ociosa". 

Foi aí que entendi tudo: a empresa tolerava um passivo de 3.5k mensais pelo simples fato de que o dono temia pela vida dela caso ela ficasse desempregada.

Se estivéssemos falando da porra da PwC até daria pra levar, mas se tratava de uma empresa com uma margem de lucro não tão alta assim, de modo que esses R$ 3.5k pesavam no orçamento.

Do ponto de vista humanístico, manter a Rose era uma atitude nobre, mas do ponto de vista empresarial era algo bastante estúpido.

Com o tempo eu detectei outras atitudes estúpidas, tais como uma excessiva tolerância com clientes inadimplentes (que alegam "dificuldades financeiras" mas andam por aí de corolla novo), e também uma relutância em demitir uma secretária cuja falta de cortesia era constantemente alvo de reclamação dos clientes, mas a secretária não podia ser demitida pois "ela usava o salário dela pra pagar a faculdade que ela está cursando".

Eis a questão: você monta uma empresa pra bancar o Jesus e se sacrificar pelos outros ou pra ganhar dinheiro? Se a resposta for a primeira, volte ao início do post e leia o mandamento em negrito.

Calma lá, Madruga, há casos e casos!

Sim, concordo, há casos e casos. Por exemplo, não faz sentido mandar um bom funcionário embora se o problema pessoal dele for pontual. Consigo pensar em uma série de exceções ao mandamento que citei no início do post, mas são exceções, a regra é e deve sempre ser: empresa é lugar para fazer dinheiro, e não caridade.

Poxa, mas sempre achei lindo quando uma empresa tem responsabilidade social.

Se você tem mais de cinco anos sabe muito bem que a "responsabilidade social" das empresas, por mais que realmente beneficie pessoas, é mais uma campanha de marketing do que qualquer outra coisa. É pela total ausência do imperativo categórico kantiano que as empresas fazem questão de soltar aos quatro ventos os seus "esforços para melhorar o mundo".

Por hoje é só. Aquele abraço!

domingo, 12 de abril de 2015

4º mandamento do empresário prestador de serviços

4 - Sempre que possível, evitarás o Poder Judiciário
Se, na condução de sua atividade empresarial, você entrar em rota de colisão com algum cliente, fornecedor, trabalhador ou seja lá quem for, tente resolver o problema sem a necessidade de ingressar com processo no Poder Judiciário.

Por mais que você tenha 100% da razão, respire fundo, tenha santa paciência e tente resolver o problema de maneira amigável (sim, isso nem sempre será possível, por isso o mandamento começa com o termo "sempre que possível").

O motivo desse mandamento é muito simples, e por uma questão de conveniência explicarei via imagens: 

A imagem acima é a iniciativa privada: rápida, ágil, cheia de vigor, sempre em busca de superação e ávida por resultados.

Essa imagem é o Poder Judiciário: não é submetido a nenhum controle de horário, a nenhum controle de produtividade e que tem plena consciência de que trabalhar ou passar a tarde toda lendo o site da Ti Ti Ti lhe renderá o mesmo salário no fim do mês. 

O que acontece quando o cara da primeira imagem precisa recorrer a essa obesa mórbida que pretensiosamente se chama de Justiça? Gastos com advogados, gastos com custas processuais, absolutamente nenhuma previsão de quando você terá um resultado final (poder ser no mês que vem, como pode ser em 2045) e nenhuma garantia de que você terá um resultado final favorável, pois cabeça de juiz é como cu de bebê, você nunca sabe o que vai sair dali.


Portanto, pense duas vezes antes de soltar o famoso "a gente vai resolver isso na justiça!". pois muitas vezes a paciência e o papo amigável podem te poupar prejuízos maiores e anos de incerteza no limbo jurídico kafkaniano que é o Poder Judiciário brasileiro.

Resumo do post: salvo raríssimas e louváveis exceções, a missão dos membros do Judiciário é trabalhar o mínimo possível e ganhar o máximo possível. Na condução de suas atividades empresariais, evite esses filhos da puta.
Mamando nas tetas do Estado e passando a rola na cara do povo brasileiro: como se não bastasse a remuneração estratosférica, juízes de todo o Brasil recebem desde outubro/2014 auxílio-moradia no valor de R$ 4.377,00. 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

3º mandamento do empresário prestador de serviços

3 - Você e sua empresa são pessoas completamente diferentes
A responsabilidade limitada das empresas existe por um motivo muito simples: nenhum ser humano teria colhões para empreender sabendo que, em caso de insucesso, seu patrimônio pessoal será imediatamente alvo de credores furiosos e famintos.

É aí que o Estado chega pra você, empresário, e diz: vai, meu filho, empreenda, gere empregos, pague-me tributos caríssimos, e em troca eu te dou um mínimo de segurança jurídica, de modo que se sua empresa quebrar, seus credores hão de cobrar somente dela, e não de sua pessoa física. Integralize o capital social na medida de suas cotas e durma tranquilo.

Acontece que, como tive a oportunidade de expor brevemente no post anterior, isso não é um passe-livre para você fazer merda por aí.

O mandamento de hoje trata justamente de uma das maiores macaquices que um empreendedor pode cometer, e a experiência me permite dizer com segurança que isso acontece com mais frequência do que imaginamos: o pensamento de que "a empresa é minha e eu faço o que eu quiser".

Toda vez que esse pensamento passar pela sua cabeça, lembre-se da lição do finado tio do Peter Parker: grandes poderes trazem grandes responsabilidades.

Descanse em paz, tio Ben.
Com isso em mente, você há de lembrar também que sua empresa é uma pessoa completamente diferente de você, o que significa dizer que ela deve ter uma vida financeira totalmente distinta da sua. 

Portanto, não use a porra do cartão da empresa para pagar seu MBA. Não use o cartão da empresa para gastar R$500 em boate todo fim de semana. Não tire 100k do caixa da empresa e contabilize como "mútuo ao sócio" como se isso resolvesse alguma coisa. Não coloque a conta da empresa em débito automático para pagar pensão para filhos ou ex-mulher. Não, não e não (são todos casos reais, diga-se de passagem).

Se você faz uma mistureba entre seu patrimônio pessoal e o patrimônio da empresa, você corre sérios riscos de tomar no meio do seu cu, pois confusão patrimonial é motivo mais que suficiente para que qualquer credor consiga a desconsideração da personalidade jurídica da sua empresa e vá direto no seu patrimônio pessoal.

Madruga, você é muito catastrófico e está sempre preocupado com o que os credores podem fazer comigo em caso de crise na minha empresa. Minha empresa vai muito bem, obrigado, não preciso ter 1/10 das precauções que você narra em seus posts.

Meu caro, nada que eu estou escrevendo pode ser considerado como super cautela. Pelo contrário, o que está exposto aqui é o básico do básico, algo que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso deveria seguir à risca, mas que a experiência tem me mostrado que não é bem assim, pois muita gente entra numa zona de conforto e começa a agir como se a conta da empresa fosse uma conta pessoal.

Ótimo que sua empresa esteja bem hoje, mas não deixe de se prevenir em caso de crise, pois o futuro é incerto para qualquer pessoa, e ele é mais incerto ainda para quem lida com o dinamismo do mercado. 

Ainnn, que bonitinho. Em 2035 o bebê dessa foto vai abrir uma loja ao lado da sua e destruir o seu negócio.

Calma, a foto acima foi só uma brincadeira. Não estou sugerindo que você viva em estado de paranoia, apenas que você não se deixe levar por práticas e comportamentos ruins, tenha um mínimo de amor próprio e previna-se. 

Um abraço!  

quarta-feira, 8 de abril de 2015

2º mandamento do empresário prestador de serviços

2 - Jamais abrirás firma individual
Jacinto tem um Ford Deluxe 1946 conversível e teve a brilhante ideia de abrir uma empresa de transporte de noivas para o casamento. Perguntou ao seu miguxo contador qual seria a forma mais simples de abrir a empresa e começar logo suas atividades. O miguxo contador orientou que Jacinto pode ser empresário individual e lhe ajudou a criar a Jacinto do Amaral Transportes de Noiva ME. Bem vindo ao inferno, Jacinto.

Ford Deluxe 1946 conversível
Por tudo que é mais sagrado, jamais cometa a cagada de abrir uma empresa individual (vulgo "firma individual") por um motivo muito simples: se sua empresa não der certo e cair em inadimplência, não há nada, absolutamente nada, que proteja o seu patrimônio pessoal dos credores que tentarão de todas as formas imagináveis e inimagináveis te compelir a cumprir com suas obrigações.

Lembre-se sempre: o empresário individual nada mais é do que uma pessoa física que possui um CNPJ para fins comerciais e tributários. Se sua empresa não der certo, os seus credores terão passe-livre para atacar diretamente o seu patrimônio pessoal (isso mesmo: seu carro pessoal, qualquer investimento que não seja caderneta de poupança no limite de 40k, qualquer bem que não seja considerado impenhorável pela legislação).

Por causa do insucesso de sua firma individual, sua vida pessoal se tornará um calvário, justamente por não haver distinção entre a pessoa da sua empresa e a sua pessoa.

"Isso não me preocupa, Madruga, garanto que minha firma será um sucesso"

Ah, meu caro, se você já entra no mundo empresarial achando que existe 100% de certeza de alguma coisa, é melhor você não se arriscar e entrar na fila do concurso público. 

Voltando ao exemplo:
Jacinto está frustrado com o resultado de seu novo empreendimento. Os clientes não querem pagar um preço que faça a atividade valer a pena. Uma das calotas do Ford simplesmente desapareceu e só é possível conseguir outra importando de Singapura por um preço estratosférico. A cerimonialista de casamentos mais famosa da cidade está sussurrando por aí que o Ford Deluxe tem cheiro de quarto de motel de beira de estrada, e espalha isso só para induzir as noivas a fechar negócio com algum parceiro dela.
Jacinto deve 3 meses de salários atrasados ao motorista que contratou, R$ 11k à seguradora de veículos, R$ 4k ao webmaster que criou o site de sua empresa e mais uma bola de neve de dívidas. 
Ele percebe que nem se trabalhasse três anos no melhor cenário possível conseguiria se livrar de todas as dívidas. Continuar tentando não faz mais sentido, muito pelo contrário, só faz o tamanho do rombo aumentar. É hora de dizer adeus à vida de empresário.
"Ok, não deu certo, mas pelo menos as dívidas são da empresa, e não minhas. Posso ter um recomeço em minha vida", pensa o nosso frustrado empresário.
Ledo engano, Jacinto, lembre-se que você optou por firma individual e não há diferenciação entre seus bens pessoais e o da empresa. Você passará o resto da sua vida sendo atacado por credores como um personagem coadjuvante do The Walking Dead sendo devorado por zumbis. Jamais poderá ter bens em nome próprio novamente, vai ter que botar todos os seus bens em nome de terceiros. 
Triste fim de Jacinto do Amaral

"Porra, Madruga, não quero ter sócio nem sujeitar meu patrimônio pessoal a esse tipo de risco. Tem solução?"


A partir de 2012 a resposta felizmente é sim, pois foi criada a figura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, conhecida carinhosamente por EIRELI. 

Com a EIRELI você não precisa de sócio, a responsabilidade é limitada ao capital social da empresa (valor mínimo do capital social deve ser Salário Mínimo x 100) e conta com aplicação das mesmas regras que regem as sociedades limitadas.

Se você cria uma EIRELI, portanto, haverá de fato uma pessoa jurídica totalmente distinta de sua pessoa física, o que deixa seu patrimônio pessoal bem mais protegido, pois as dívidas da empresa serão dívidas da empresa, e não de sua pessoa.

"Então posso criar uma empresa limitada, fazer todo tipo de merda, afundá-la em dívidas, abandoná-la e sair rindo a toa, pois meu patrimônio pessoal nunca será atingido?". 

Não. A personalidade jurídica e a sociedade limitada foram criadas para proteger o empresário honesto em caso de insucesso de sua atividade. 

Existem hipóteses em que o seu credor poderá requerer judicialmente a desconsideração da personalidade jurídica da empresa devedora para alcançar o patrimônio dos sócios, então pense duas vezes antes de achar que pessoa jurídica é passe-livre para fazer merda.

Tome especial cuidado com os credores trabalhistas e credor fiscal... eles conseguem alcançar o patrimônio dos sócios com mais facilidade ainda, por motivos que fogem ao tema deste post. 

Moral da história?

- Se você fizer questão de não ter sócio, não opte por ser microempresário individual, opte pela EIRELI.
- Se você optou por ser microempresário individual, faça a conversão para EIRELI assim que possível.
- Desde que surgiu a EIRELI em nossa legislação, não há literalmente motivo algum para você optar pela empresa individual comum. Pelo contrário, só existem riscos.

Um abraço!

terça-feira, 7 de abril de 2015

1º mandamento do empresário prestador de serviços

Já com alguns anos de experiência como empresário, gostaria de compartilhar algumas dicas com aqueles que pretendem seguir essa "carreira". 

Essas dicas são em sua maioria voltadas para a prestação de serviços, então talvez você não se identifique com todas elas.

Tratam-se de aprendizados que pautam minha conduta, muitos dos quais derivam dos meus próprios erros ou erros alheios (observar e aprender com os erros alheios, aliás, é uma excelente virtude).

Sem mais delongas, vamos lá:

1 - Firmarás contrato em toda e qualquer ocasião

Quando surgir um novo cliente, controle sua empolgação e sua vontade de impressionar, e só comece os trabalhos depois que a pessoa firmar o contrato contigo.
Madruga, acabei de montar uma empresa e fui procurado pela maior construtora do Estado para fazer o planejamento tributário de um Shopping Center que eles vão construir! Acordamos em reunião que minha remuneração seria de R$ 500.000,00. A sintonia com a construtora está excelente, eles dizem o tempo inteiro que nossa parceria será para a vida toda, e isso significa que ficarei milionário muito em breve! Só esse planejamento do Shopping gerará uma economia tributária de 10 milhões de dilmas, não é a toa que o presidente da construtora está me tratando como um filho toda vez que nos reunimos!
O contrato de prestação de serviços está devidamente assinado pela construtora? Se sim, meus parabéns. Se não, fique você sabendo que na hora de usufruir de um serviço muitos clientes te tratam como um semi-deus, mas na hora de tirar dinheiro do bolso para te pagar a história muda um pouco...

Pode ser que, já gozando da economia tributária de 10 milhões de reais, o presidente da construtora te mande uma cartinha falando que o cheque de R$ 30 mil correspondentes a prestação de seu serviço já está à sua disposição no financeiro da empresa...

E quando você toma no cu dessa forma, sem um contrato devidamente formalizado, só lhe resta chorar o leite derramado ou recorrer ao Judiciário (um órgão administrado em sua maioria por pessoas descompromissadas, desinteressadas e desprovidas de competência para captar 1% da complexidade do serviço que você prestou). Em 2030 a justiça será ou não feita e talvez você receba o seu dinheiro...

A reação do dono da construtora quando você vai cobrar sua remuneração sem um contrato assinado e depois que o serviço foi prestado.
Madruga, o padrinho de casamento do meu sócio nos procurou para que nós formalizemos uma parceria imobiliária entre a construtora dele e uma das maiores loteadoras do Brasil. Combinamos em reunião que a remuneração da minha empresa será de R$ 500 mil. Tá tranquilo?
Assinou contrato? Não? Não comece a trabalhar até que esteja assinado.

A excelente relação entre seu sócio e o padrinho de casamento dele não substituem um contrato assinado.

Pode ser que, depois que você já garantiu a segurança do cliente em uma parceria imobiliária de meio bilhão de reais, ele se aproveite do fato de que não há um contrato assinado para resolver que não quer tirar quinhentos mil reais do bolso para te pagar.

Que opções você tem? Isso mesmo, mais um processo judicial para a sua coleção, onde a mesma pessoa que te idolatrou enquanto você prestava o serviço vai dizer em juízo que seu serviço foi uma mera "revisão de contrato" e que para tanto R$ 500 mil reais de remuneração supostamente combinados é um exagero. 
Madruga, meu cliente de longa data encontrou um comprador para uma das fazendas dele. A fazenda será vendida por R$ 60 milhões e ele me procurou para que eu faça o contrato de compra e venda com um planejamento tributário. É urgente, madruga, urgentíssimo, pois o cliente quer essa venda formalizada o mais rápido possível. Combinamos que minha remuneração será de R$ 300.000,00, portanto estou trabalhando dia e noite para entregar o contrato/planejamento na quinta-feira!
Legal, meu caro, mas não se deixe levar pela euforia alheia ou pela oportunidade que é "pegar ou largar". Pare, respire, elabore seu contrato de prestação de serviço e bote o seu cliente para assinar.

Faça isso ou pode ser que, depois que você fez todo o trabalho, o comprador da fazenda desista da compra aos 45 do segundo tempo e seu querido cliente de longa data entenda que ele não tem que te pagar os R$ 300 mil pois "ele não conseguiu vender a fazenda, no fim das contas", como se isso de alguma forma bizarra anulasse o fato de que seu trabalho foi integralmente feito. 

Moral da história

As situações narradas acima foram casos reais sentidos na pele por este Madruga que vos escreve, inclusive no que tange aos valores envolvidos.

Qual a moral da história, então? "Partir do pressuposto de que todo cliente é um caloteiro em potencial", você pode estar pensando. 

De forma alguma!

A verdadeira lição é: o contrato de prestação de serviços não é um instrumento de desconfiança entre as partes, mas sim de segurança (principalmente pra você, meu caro). Não há relação de amor, amizade, confiança ou situação de urgência que substitua um contrato assinado. 

Se seu trabalho é garantir a segurança dos outros, não se deixe permitir que você mesmo trabalhe numa situação de insegurança.

Não permita que, após você desenvolver todo o seu trabalho, a pessoa que usufruiu do serviço decida se vai honrar ou desonrar o que foi combinado. Como eu disse, na hora de tomar o serviço é só amores, mas na hora de pagar muita gente pensa duas vezes.

Cobrar um inadimplente com contrato assinado já é demorado, posso te garantir que cobrar um inadimplente sem um contrato assinado é o sinônimo de calvário judicial. 

Por hoje é só. Tenho que ir trabalhar. Outras dicas em breve.

Um abraço! 
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