quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O preço da sofisticação

Poderia usar centenas de exemplos diferentes, mas vou direto ao mais icônico deles: 

O vinho
Nunca tive muito gosto por vinho e nunca fiz questão de ter. Coloque uma taça de vinho de R$ 20 na minha frente e outra taça com um vinho de R$ 5 mil que eu vou provar os dois sem saber identificar qual é o barato e qual é o caro.

Algumas pessoas próximas a mim eram exatamente como eu no que tange ao vinho até o ano passado, mas resolveram se aprofundar na enologia (é o estudo do vinho) e foram se especializando cada vez mais no assunto.

Enquanto para mim vinho continuou tendo o mesmo gosto que sempre teve (vinho tem gosto de vinho, veja só você), para eles o vinho X passou a ser intragável "por ser emadeirado demais", o vinho Y passou a ser "enjoativo após a segunda taça, por ser frutado demais", o vinho Z passou a ser abaunilhado, defumado, rugoso, tanino, condimentado, amanteigado (?), amendoado, aveludado (!?), aviadado, cassis, carnoso etc e tem seu gosto acentuado se acompanhado de cordeiro assado em forno a lenha ao molho pesto.

Dá aquela analisada pra mostrar que você entende
Com esse refino todo, os vinhos de preços acessíveis que essas pessoas apreciavam foram saindo de cena, pois o aprofundamento no assunto fez com que elas fossem em busca de outros mais adequados aos seus paladares refinados, que não por coincidência são mais caros também. 

Hoje em dia essas pessoas raramente gastam menos de R$ 100 numa garrafa; ocasionalmente se decepcionam com alguma compra por não atender às expectativas; um deles criou um complexo de Edemar Cid Ferreira antes da falência e mantém em casa uma adega "com mais de R$ 5 mil em vinho" acoplada a um gerador de energia para caso ocorra queda de luz.

Sobre isso, eu tenho a dizer o seguinte:

Em um passado não muito distante, essas pessoas eram felizes tomando garrafa de Santa Helena comprada por R$ 28 no supermercado mais próximo.

Por opção própria, foram se tornando cada vez mais exigentes no que tange à bebida em questão, de modo que agora só alcançam a felicidade que sentiam antes se pagarem mais caro. 

Vocês acham que eles se tornaram mais felizes do que eram antes? Certamente no começo dessa "nova aventura gustativa" eles sentiram uma euforia maior, como se algo interessante estivesse sendo agregado à vida deles, mas, ultrapassada a fase da empolgação, só restou a eles as mesmas felicidades e infelicidades que existiam anteriormente, com a ressalva de que agora eles têm que pagar mais caro para se sentir bem, ao menos no que tange ao consumo de vinho.

Esse é um fenômeno que acontece não só com o vinho, mas também em variadas situações: as pessoas se sentem eufóricas com a possibilidade de "aumentar o padrão" de algum aspecto da vida deles, a empolgação com a novidade se esgota após certo tempo, o clima de normalidade volta a imperar, mas no fim o que sobra é a necessidade de bancar um padrão de vida mais caro, com a sensação de que diminuir esse padrão seria uma espécie de retrocesso.

Sofisticar cada vez mais
Como agravante, tem-se o fato de que a maioria das pessoas entram nessa dança bastante influenciadas por fatores exógenos: paga-se caro para atender as expectativas alheias.

Há um conceito dominante de gosto/estética que todo mundo tenta seguir - e isso é assunto para um post específico -, mas financeiramente falando é melhor que você não entre nesse jogo.

É possível que seu prato favorito de R$ 15 lhe traga mais prazer do que o prato favorito de R$ 300 do seu amigo punheteiro-gastronômico que se acha jurado do Masterchef. A mesma lógica se aplica ao vinho, ao tamanho da sua casa, ao que você consome ou deixar de consumir em geral.

Quanto mais simples forem seus hábitos de consumo, mais rápido você está propenso a deixar a corrida dos ratos. Ao se falar em "hábitos simples", automaticamente pensamos em algo pejorativo como pobreza, falta de instrução/estudo, no favelado ou no Raimundo do sertão, a demonstrar como o conceito dominante de gosto/estética está impregnado em nossas vidas.

Simplicidade nem de longe é sinônimo de pobreza e privação, embora exista toda uma ideologia feita para nos convencer do contrário, reproduzida por todos como se verdade fosse no interesse exclusivo dos que embolsam seu dinheiro na hora de lhe vender o "alto padrão".

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Que tal ser condenado a viver de renda?

Sonho com o dia em que poderei parar de trabalhar e fazer o que eu bem entender (dentro dos limites da minha renda, obviamente) com a tranquilidade de que a fonte que me sustenta não secará.

Esse é um objetivo que na blogosfera de finanças brasileira é chamado de independência financeira, enquanto a blogosfera gringa parece preferir o termo "early retirement", que aportuguesarei para "aposentadoria precoce".

Pode chamar de independência financeira, pode chamar de aposentadoria precoce, pode até chamar de pacto com o capiroto, a nomenclatura é irrelevante, o que realmente importa é que quero isso para a minha vida, e você provavelmente quer isso para a sua também.

O que farei no meu último dia de trabalho
Enquanto a aposentadoria precoce é o sonho nosso de cada dia, no Brasil existe um universo paralelo onde ela é uma punição. Isso mesmo: você é condenado a parar de trabalhar e viver de renda.

Esse universo paralelo já foi mencionado aqui no blog no mês passado, e acontecimentos recentes me motivaram a escrever agora um novo post sobre o assunto. 

Lembram dele?
O sujeito na foto acima era o juiz federal responsável por julgar se o Eike Batista cometeu ou não crimes contra o mercado financeiro.

A não ser que você viva numa caverna sem acesso à TV e internet, sabe muito bem que no começo do ano esse juiz foi tomado por um complexo de semi-deus e se apossou de um monte de bens do Eike, dentre eles um porsche e outros carrões, um piano, um relógio rolex e outro bulgari, dinheiro em espécie e sabe-se lá mais o quê (links da época aqui e aqui).

Como isso gerou um bafafá na época, o juiz foi temporariamente afastado de suas funções enquanto sua conduta era apurada pelos órgãos competentes.

Investigações posteriores descobriram uma situação ainda mais bizonha: o juiz havia desviado mais de um milhão de reais que estavam apreendidos pelo tribunal em virtude das investigações contra um traficante espanhol.

Ainda segundo as investigações, a "Excelência" simplesmente falsificou documentos para ludibriar a Caixa Econômica e o Banco Central, embolsou a bufunfa milionária apreendida no processo do traficante espanhol (usando boa parte para comprar um apartamento de luxo) e tentou apagar as provas do processo a fim de que ninguém percebesse o que havia se passado.

Depois de tamanha bandidagem (em parte já confessada pelo juiz), de se imaginar que haveria uma punição exemplar contra alguém que usou sua posição de juiz federal para cometer crimes, não é mesmo?

É aí que o pepino entra mais uma vez no cu da sociedade brasileira. Ontem o Tribunal ao qual o juiz está vinculado optou por aplicar a pena máxima cabível aos magistrados vitalícios (e aos membros do Ministério Público também): a aposentadoria compulsória com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.

Que maravilha, não? O sujeito chuta o pau da barraca, comete uma sucessão de crimes e a "pena máxima" em seu desfavor consiste em ser aposentado e ir curtir a vida enquanto segue mensalmente recebendo renda paga pelo Estado.

Se essa é a "pena máxima", quais serão as penas mínimas? Receber um boquete?
Pesquisei mais um pouco sobre o assunto e vi que, se ele for condenado criminalmente, poderá perder esse benefício travestido de pena chamado de "aposentadoria compulsória".

A condenação criminal, no entanto, tem que ser definitiva, ou seja, só quando não for mais possível para a defesa interpor qualquer forma de recurso. 

Não sou nenhum especialista no assunto mas sei bem que, com a lerdeza natural do judiciário, acrescido de estratégias de defesas protelatórias, sucessivas arguições de nulidade e a interposição de 580 mil recursos, é possível tranquilamente protelar o fim de um processo desse gênero por uns 10, 15, 20 anos.

Enquanto isso, vá preparando o seu precioso dinheiro para pagar as contas de um bandido que foi "condenado" à aposentadoria precoce que tanto desejamos. 

Aquele abraço!

domingo, 1 de novembro de 2015

Desempenho outubro/2015



1. Alocação do patrimônio:

R$ 22.657,93 em CDB pré 15,4% venc 16/08/2016
R$ 12.824,76 em NTN-B-P IPCA+6,32% venc. 15/05/2019
R$ 7.223,36 em LFT venc. 01/03/2021
R$ 3.645,55 em LTN 13,42% venc. 01/01/2018
R$ 4.095,00 em KNRI11
R$ 3.802,05 em RNGO11
R$ 3.904,00 em AGCX11
R$ 3.646,10 em BBPO11
R$ 3.503,45 em caderneta de poupança
R$ 257,45 largados na conta da corretora
Total: R$ 65.559,65

76% do patrimônio alocado em renda fixa, 24% em renda variável

2. Novidade na carteira:

Nenhuma. O aporte do mês foi parar na poupança.

3. Rentabilidade dos FIIs:

KNRI11
Qtde: 35
Preço médio: 116,79
Fechamento: 117,00
Valorização atual: 0,18%
Total: R$4.095,00

AGCX11
Qtde: 4
Preço médio: 963,00
Fechamento: 976,00
Valorização atual: 1,35%
Total: 3.904,00

RGNO11
Qtde: 51
Preço médio: 78,30
Fechamento: 74,55
Valorização atual: -4,79% (porra RNGO)
Total: R$ 3.802,05

BBPO11
Qtde: 38
Preço médio: 97,10
Fechamento: 95,95
Valorização atual: -1,18%
Total: R$ 3.646,10

4 . Despesas extraordinárias

Nenhuma. Sequer amortizei o saldo devedor mencionado nesse post, que atualmente está em R$ 11 mil. 

5 . Empresa

Outubro foi um mês monótono, para não dizer que foi um mês inútil: não fechamos novos contratos com clientes antigos; não captamos clientes novos; não entrou muito dinheiro além do devido pelos clientes mensalistas; os trabalhos em andamento estão caminhando devagar pois o serviço público está em clima de fim de ano desde julho... enfim, foi aquele mês bem paradão mesmo, em que a empresa não encolheu mas também não cresceu.  

Trabalhei no interior do Estado por dois dias, numa cidade com 20 mil habitantes, e foi agradável olhar ao redor e ver montanhas em vez de favelas; andar por aí sem cruzar com um crackudo a cada 20 metros; não escutar aquele "pi-pi-pi-pi-pi" incessante que as garagens dos prédios fazem; sem gente jogada no chão dormindo em papelão; enfim, sem todo o fuzuê que faz parte da minha rotina. Se Quando eu alcançar minha independência financeira, não sei se vou querer continuar morando em cidade grande, acredito que cidade de 200-300 mil pessoas já me atende.

6. Vida pessoal

6.1 Doença

Fiz uns exames e descobri que tenho uma doença autoimune chamada tireoidite linfocítica crônica (ou tireoidite de hashimoto) em que meu organismo fabrica anticorpos que atacam as células da minha tireoide.

O ponto negativo é que essa doença não tem cura, e o ponto positivo é que não mata (e-eu acho...), os sintomas não são tão drásticos assim e podem ser amenizados com um comprimido diário de levotiroxina sódica.

Então é isso, a partir de outubro comecei a tomar uma medicação diária que vai me acompanhar pro resto da vida, para amenizar os efeitos de uma doença que incide oito vezes mais em mulheres do que em homens (era só o que me faltava).

Não haverá despesa relevante com medicação: o pacote com 30 comprimidos custa aproximadamente R$ 8.

 6.2 Marmita

Completei mais um mês levando marmita para o trabalho em vez de almoçar em restaurante. Antes gastava aproximadamente R$ 250/mês almoçando em restaurante nos dias úteis (R$ 11,36/refeição), neste mês gastei R$ 112 em ingredientes para fazer as marmitas que levei pro trabalho (R$ 5,09/refeição). É mais barato, mais saudável e provavelmente mais higiênico!

6.3 Livros

Atualmente lendo "A Loja de Tudo: Jeff Bezos e a era da Amazon", mas como ainda estou na metade deixarei os comentários para um próximo post.

6.4 Exercício físico

O que é isso?

7. Considerações finais

Gostaria de terminar 2015 com pelo menos R$ 70 mil.

Faltam 2 meses pro ano acabar e faltam R$ 4.440,35 para eu chegar nos R$ 70 mil.

Aparentemente tá tranquilo, mas eu não sei, fim de ano é um período historicamente fraco na empresa e nessa vida de microempresário tudo pode acontecer.

Bom novembro a todos!
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