quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O surto de Marta

Quem acompanha o blog há mais tempo deve se lembrar que no fim do ano passado mudei para um novo apartamento, em um prédio localizado em uma avenida bastante movimentada.

Uma das primeiras coisas que reparei ao mudar para o novo cafofo é que eu estava em um dos pouquíssimos prédios da avenida que não tinha nenhuma propaganda na fachada.

É uma avenida bastante movimentada, então a maioria dos prédios aproveita a localização para instalar empenas e alugar a fachada para empresas de comunicação visual, gerando assim uma receita mensal de aluguel revertida em prol do condomínio. 

É disso que estou falando
Entrei em contato com o síndico do condomínio, perguntei por qual motivo o nosso prédio não tinha propaganda na fachada e ele não soube responder.

Entrei em contato com a administradora do condomínio, perguntei a mesma coisa e novamente fiquei sem resposta.

Percebi que o prédio não tinha uma propaganda na fachada (e receita mensal de aluguel, via de consequência) por pura inércia e falta de atitude dos envolvidos, e a partir daí resolvi tomar uma providência.

Entrei em contato com várias empresas de comunicação visual e pedi orçamento.

A maioria das empresas que contatei me ignorou, outras responderam que não trabalham com empenas e quatro manifestaram interesse e enviaram propostas. 

A melhor proposta veio de uma empresa que ofereceu R$ 2.300,00/mês pelo aluguel da fachada, além de arcar com as despesas de iluminação no período noturno.

Mostrei pro síndico essa possibilidade de gerar R$ 2,3 mil de receita sem fazer nada e ele finalmente resolveu se mexer, convocando uma assembleia-geral extraordinária para votar a contratação da empresa de comunicação visual.

Como o síndico se sentiu quando falei dos R$ 2,3 mil/mês que o condomínio poderia ganhar
A assembleia começou e o síndico explicou aos presentes que a propaganda na fachada geraria uma redução de estimados R$ 48 na taxa condominial de cada apartamento. Diante dessa perspectiva de pagar menos condomínio, todo mundo aprovou a instalação da propaganda na fachada.

Todo mundo menos Marta, a surtada do prédio

Estavam todos (menos Marta) bastante felizes com os cinquenta contos de economia que passariam a ter na taxa condominial, e o síndico revelou aos presentes que tudo aquilo era ideia do Madruga, o novo morador do prédio. Depois de falar isso o síndico puxou uma salva de palmas, e num momento constrangedor os presentes olharam pra mim e começaram a bater palmas. 

Obrigado, mas vocês são uns retardados por não terem pensado em botar propaganda na fachada antes
Em dezembro do ano passado a empena já estava instalada e uma propaganda estilo "Bradesco Seguros" passou a enfeitar a fachada do prédio, gerando uma redução de R$ 48,00 na taxa condominial, conforme prometido pelo síndico.

2017 chegou e logo no fim de janeiro tivemos uma nova assembleia-geral extraordinária para discutir qualquer assunto aleatório.

A assembleia fluía normalmente e eu estava quieto no meu canto, quando Marta levantou, interrompeu o assunto da pauta, apontou pra mim e disse "Vocês sabiam que esse menino aí tá botando no bolso R$ 3 mil por fora com esse contrato da fachada? Eu conversei com várias pessoas, várias, e todas me disseram que um aluguel de fachada aqui na região não sai por menos de R$ 5 mil! Isso tem que ser investigado. Tem que investigar esse menino aí, ele está botando no bolso dinheiro que deveria ir pro condomínio! Se isso não for investigado, eu vou na polícia. Na po-lí-ci-a!".

A primeira acusação de corrupção a gente nunca esquece
Os demais presentes aparentaram não levar muito a sério o que Marta disse. Eu pedi que a acusação de Marta fosse registrada na ata da assembleia e que a reunião prosseguisse normalmente.

No final da assembleia alguns condôminos vieram até mim e falaram pra eu não me preocupar com o que Marta diz. Disseram que ela é alcoólatra, bipolar, mora sozinha e de favor no apartamento que pertence ao pai, vota em assembleia com procuração e faz o que pode para encher o saco e atrapalhar todo mundo no prédio já há muitos anos.

Segundo a galera que veio falar comigo, todo mundo já foi vítima de algum surto da Marta algum dia, e eu deveria considerar aquilo uma mensagem de boas vindas dela para mim.

Ela é o tipo de pessoa que nunca conquistou nada na vida, ficou pra titia, afundou no alcoolismo, vive de dinheiro do pai e tem como única fonte de entretenimento criar confusão, especialmente em assembleias, onde ela é tomada por um complexo de pequeno poder por se sentir proprietária de um apartamentinho fuleiro que diga-se de passagem nem é dela.

Pra ser sincero não me importei muito com a acusação de Marta, mas também não quis deixar barato. Ali estava uma boa oportunidade de tirar dinheiro do bolso dela e botar no meu. Se você leu o post "Ganhando dinheiro com processos judiciais", já deve saber do que estou falando (no post em questão expliquei como é possível entrar com processo sem advogado e sem pagar taxas).

Martha, minha vingança vai doer no seu bolso
Menos de uma semana depois da famigerada assembleia eu já tinha entrado com o processo contra Marta pedindo indenização por danos morais por conta da acusação mentirosa. Juntei como prova um CD com o áudio da assembleia (as assembleias são gravadas), a ata, as várias solicitações de orçamento que fiz, além de botar como testemunha o síndico e a mulher da administração do condomínio. 

A audiência de conciliação foi em abril e Marta apareceu com um advogado do lado e visivelmente constrangida, olhando fixamente pra mesa de audiência sem fazer contato visual com ninguém.

A conciliadora fez um discurso robótico sobre as vantagens da conciliação e perguntou se Marta tinha alguma proposta de acordo a fazer. 

O advogado de Marta propôs que ela assinasse uma retratação pública/pedido de desculpa pela acusação feita contra mim, e em contrapartida eu deveria concordar com o arquivamento do processo.

Pedido de desculpa? Eu quero dinheiro, fera.
Propus que Marta fizesse a retratação pública e me pagasse R$ 3.000,00. Ele fez uma contraproposta de retratação pública + R$ 1.500,00. Eu concordei porque preferi resolver logo do que deixar o processo se eternizando na lerdeza judiciária. 

Marta assinou um papel pedindo desculpa pela acusação falsa dirigida contra mim e se comprometeu a pagar os R$ 1.500,00 em 15 dias, do contrário pagaria uma multa de 10% e o processo continuaria.

Pra fazer bom uso do pedido de desculpa de Marta, tirei dezenas de cópias do mesmo e fui enfiando por baixo da porta de todos os apartamentos. Mas retratação pública é o cacete, eu queria mesmo era os R$ 1,5 mil que ela se comprometeu a me pagar em 15 dias.

Só que ela não pagou. 

Os 15 dias passaram e nada do dinheiro entrar na minha conta.
É isso aí, amigos, Marta ligou o foda-se pro acordo feito no processo e frustrou minha expectativa de ver 1,5 mil entrando na minha conta. Só me restou continuar com o processo judicial cobrando os 1,5 mil + multa de 10% pelo calote. 

Pedi bloqueio de dinheiro nas contas bancárias de Marta, mas só foram bloqueados seis reais.

Pedi bloqueio de veículos em nome de Marta, mas ela não tem nenhum automóvel registrado em nome próprio.

Foi aí que me dei conta que, sendo ela uma desocupada surtada que vive às custas do papai, muito provavelmente eu jamais veria a cor do dinheiro que eu estava cobrando.

Vou sair de mãos vazias nessa história
Pedi pro oficial de justiça buscar qualquer coisa dentro do apartamento de Marta que eu pudesse pegar e vender depois, e o processo ficou vários meses parado sem motivo algum. 

Eis que, no começo de outubro, o síndico do prédio me liga dizendo que Marta se recusou a deixar o oficial de justiça entrar no apartamento dela, e o oficial voltou acompanhado de dois policiais militares e um chaveiro, forçando a entrada no apartamento contra a vontade dela.

Eu não sabia se ia receber meu dinheiro, mas só pela treta já tá valendo a pena
Como trabalho perto de casa, saí da empresa, fui literalmente correndo até o prédio em que moro, subi no andar de Marta e fiquei lá no corredor, ao lado de um PM.

Marta estava vermelha e bufando de ódio quando me avistou. "NO MEU APARTAMENTO ELE NÃO ENTRA! NÃO ENTRA!", gritou Martha para o PM que estava do meu lado. O PM ignorou solenemente o faniquito de Marta e continuou digitando qualquer coisa no próprio celular. 

Eu não queria entrar no apartamento de Marta. Só queria acompanhar a treta de perto e saber se eu ia sair dali com algo na mão ou no zero a zero.

O oficial de justiça saiu de dentro do apartamento e eu conversei com ele. Ele disse que a maioria das coisas que estavam dentro do apartamento dela não poderiam ser retiradas pois eram o básico do básico pra sobrevivência (geladeira, fogão, microondas, tv velha, essas coisas), mas que, se eu quisesse, poderia levar uma caixa com 12 garrafas de azeite extra-virgem 500 ml que ela tinha na cozinha e uma TV Smart Samsung 32" novinha, ainda dentro da caixa, que a safada escondeu na escada de incêndio nesse meio tempo em que o oficial de justiça saiu para depois retornar com a polícia e o chaveiro.

6 litros de Azeite? Acho que vou querer só a TV mesmo, amigo.
O oficial penhorou a Smart TV e entregou para o síndico do condomínio, que ficou responsável por guardá-la até segunda ordem do juiz.

Fui no processo dizer que eu queria a TV pra mim. Marta não disse mais nada, então o juiz autorizou que eu pegasse a televisão, considerou paga a dívida e arquivou o processo.

Minha mais nova Smart TV não vale nem R$ 1.200,00, então acho que o juiz foi um pouco afobado em considerar paga uma dívida que com multa e juros já passava de R$ 1.650,00, mas enfim...

Tirando o risco de ser esfaqueado no elevador por uma alcoólatra bipolar que não morre de amores pela minha pessoa, estou satisfeito com o desfecho da coisa toda: ganhei um pedido de desculpa não muito sincero e uma televisão.

Tem muita gente boa no prédio em que moro, mas tem muito retardado também. Em breve contarei pra vocês outras tretas condominiais.

Aquele abraço!

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O que fazer após a independência financeira?

Estava lendo um blog gringo de um cara que alcançou a independência financeira, parou de trabalhar e passou a viver de renda passiva. Vejam só como o sujeito descreveu a própria vida: 
Minha vida ainda é um pouco estruturada pois minha esposa tem um emprego e nós dividimos um carro, então eu tento deixá-la no trabalho e buscá-la. Eu penso em jogar golfe a maior parte do tempo. Eu joguei golfe cinco vezes na semana passada, mas geralmente jogo três ou quatro vezes por semana, tirando um dia de folga após cada partida. Em dias em que tiro folga (como hoje), eu sinto como se estivesse sem jogar há anos e fico pensando na próxima partida.
O cara alcançou meu maior objetivo, que é viver de renda passiva, e agora sua rotina consiste em levar a esposa pro trabalho e jogar golfe.

 Porra, blogueiro gringo! Fiquei entediado só de me imaginar numa vida assim.
Depois disso pensei melhor e vi que blogueiro gringo está fazendo a coisa certa. Basta reler as palavras dele para ver como ele está entusiasmado e feliz com o golfe, então quem sou eu para julgá-lo? O cara vive de renda passiva e gasta o tempo dele com o que o faz feliz, ponto final!  

Não existe certo ou errado para a felicidade, a não ser que sua felicidade consista em molestar crianças, violar sepulturas, assistir Encontro com Fátima Bernardes e outras atitudes doentias, ou em tomar decisões autodestrutivas que atentam contra a sua saúde mental, física e financeira.

Mas se eu não sinto prazer algum em jogar golfe compulsivamente tal qual o blogueiro gringo, o que a independência financeira representa para mim? Por que diabos acordo pensando em renda passiva e durmo pensando nela? 

Os meus motivos eu listo a seguir: 

1) Liberdade de não trabalhar

O maior motivador da minha busca pela independência financeira é não precisar mais trabalhar. É saber que eu estou livre de uma obrigação que ocupa manhã e tarde da maior parte das pessoas, e que posso dedicar meu tempo livre a ler livros, escrever no blog, buscar conhecimento, praticar exercícios físicos, me alimentar da melhor forma possível e fazer coisas improdutivas como ver séries, ouvir música e encher o saco das pessoas.

Há quem veja essa ideia de não trabalhar como algo anticapitalista, mas lembre-se que estou falando de parar de trabalhar por viver de renda passiva, ou seja, mais capitalista impossível.

Antes que alguém atire essa pedra, devo dizer que não sou infeliz no meu trabalho. Muito pelo contrário: tenho conforto e autonomia profissional bem acima da média e me dou bem com todo mundo que lido diariamente. Ainda assim, nada supera minha vontade de me ver livre da obrigação da trocar vida por dinheiro.

2) Mobilidade

Mobilidade é consequência da liberdade que a renda passiva pode proporcionar. Mobilidade pra mim significa estar onde eu quiser, quando eu quiser.

Seu primo está com vontade de conhecer Gramado? Poxa vida, ele não tem dinheiro nem tempo pra isso. Quem sabe um dia ele consiga, com o devido planejamento.

Você é independente financeiramente e acordou com vontade de ir para a Bulgária? Parabéns, você tem tempo e dinheiro pra isso.

Boa viagem.
Como não sou casado nem tenho filho, a única coisa que me prende geograficamente a determinado lugar é o trabalho, e parar de trabalhar significa mobilidade absoluta, podendo ir pra onde quiser sem precisar avisar pra ninguém ou me preocupar com quem deixei para trás.

3) Proximidade com certas pessoas

Tenho amigos e familiares espalhados pelo Brasil e em outros países. Raramente os vejo, pois quando você trabalha só consegue se deslocar grandes distâncias por um bom período de tempo durante as férias.

Com a independência financeira eu gostaria de visitar essas pessoas com uma frequência bem maior, e a liberdade de não trabalhar somado à mobilidade permitem isso.

4) Imigração permanente

Tá aí um assunto que eu nunca mencionei aqui no blog, mas que tenho sempre em mente. O Estado brasileiro é uma organização criminosa, e eu não necessariamente morro de amores por viver embaixo desse guarda-chuva.

Gostaria de viver em um país com menos insegurança, menos supremacia do funcionalismo público sobre a iniciativa privada e menos filhos da puta passando a rola na cara do cidadão comum todo santo dia. Não faço questão de viver num país perfeito, mas avacalhado como o Brasil aí já é demais.

Vocês devem ter visto nos jornais a Ministra que fez uma analogia ao trabalho escravo para pedir vencimentos de R$ 61 mil/mês. Parece ser um caso único de Ministra sem noção que falou besteira, mas a real é que esse tipo de deboche é diário, permanente, presente em todas as esferas dos três poderes e no Ministério Público, de forma que até o órgão que deveria lutar contra a festa do cachorro louco também mama na teta com auxílios e penduricalhos.

Gosto do Brasil, mas acho que prefiro visitar o país como turista quando der vontade em vez de ser um morador. Sem sombra de dúvida uma bela renda passiva contribui para um projeto imigração.

Vai sair do país? Poxa, fica mais.
Breve conclusão:

Meu sonho de independência financeira não inclui carro importado e uma mansão com 30 mulheres dançando na piscina ao som de Mc Rodolfinho.

É algo bem mais simples que isso, e consiste em parar de trabalhar, possivelmente sair do país de forma definitiva, estar onde eu quiser e quando eu quiser, estar mais próximo de boas companhias, aprender novos idiomas e conhecimentos práticos úteis, abandonar as refeições apressadas e os exercícios físicos com sono, enfim, usar meu tempo na terra com mais qualidade.

E aí, pessoal, quais são seus planos pós independência financeira?

Aquele abraço!
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